Da Redação
Logo depois da uma hora e meia passada a depor no Ministério Público Federal (MPF) em oitiva da ação na qual é acusado de fazer lavagem de dinheiro por meio de compra e venda de imóveis, o ex-secretário de Estado Eder de Moraes Dias resolveu contestar o trabalho dos procuradores classificando-o como “equívoco” e acusando-os de “esquecimento” proposital de provas apresentadas. Ele cita registros de Imposto de Renda e um suposto prêmio de R$ 1,43 milhão recebido da Loteria Federal ganha em 2010. “É um equívoco terrível do MPF, não existe, foi comprovado que não existe [indícios de lavagem de dinheiro]. Foi feita uma permuta de imóveis. Não vou entrar em detalhes, está devidamente declarado no imposto de renda, está absolutamente afastada a possibilidade de lavagem de dinheiro, o ano base é 2010. É difícil argumentar porque não tem fundamentação nenhuma a acusação”, disse aos jornalistas que o aguardavam na saída da sede do MPF, na avenida Getúlio Vargas, na tarde de quinta-feira (25).
O ex-titular da Secretaria de Fazenda e da Casa Civil nos governos Blairo Maggi e Silval Barbosa falava que as imputações criminosas da acusação tratam em verdade de uma simples permuta de imóveis. “Foram pessoas sérias, decentes, honestas que fizeram todas as tratativas. Enfim, os imóveis estão com seus documentos devidamente encaminhados, então não existe nenhum tipo de lavagem. Tudo que houve foi simplesmente uma permuta de imóvel. Não tem nada a ver com governo. São assuntos privados. Assuntos da minha família. As negociações foram feitas seguindo o que a legislação permite, não há absolutamente nada fora da legislação. Os recursos estão comprovados no meu imposto de renda, sua origem lícita”, sustentou.
Na sequência, acusou os procuradores de deliberadamente “esquecerem” que no ano de 2010 ele teria ganhado um prêmio de sorteio da Caixa Econômica Federal e esse dinheiro foi aplicado, multiplicado e tornou-se fonte de boa parte de seu patrimônio, pois ele também já disse há cerca de um ano que foi com esse mesmo recebimento que comprou e construiu sua propriedade no bairro de luxo Florais Cuiabá. “É bom lembrar que o MPF despreza o ano de 2010 em todas as análises que fazem quando é pra meu benefício, porque em 2010 houve o prêmio da Loteria Federal de R$ 1,430 milhão”, continuou, na mesma ocasião em que tentava se defender de peça na qual é alvo de acusação nascida na sexta fase da Operação Ararath sobre o desvio de recursos públicos para compra dos imóveis em nome de laranjas para escondê-los do resultado das condenações que ele já sofreu e que ainda pode sofrer, com consequente pagamento de multas, devolução de valores e bens móveis e imóveis.
O trâmite dessa ação corre sob segredo de justiça. No entendimento do MPF, documentos, fatos e depoimentos apontam o ex-secretário como partícipe de uma série de crimes financeiros como lavagem de dinheiro e ocultação de bens por meio de um esquema montado para aquisição de imóveis para ele, mas em nome de laranjas.
Eder de Moraes Dias é apontado pelas investigações da Operação Ararath, realizada pela Polícia Federal, como principal operador de um esquema de lavagem de dinheiro e financiamento de campanha via caixa dois dentro do Palácio Paiaguás, além de movimentar criminosamente grandes cifras. De acordo com dados dos processos movidos somente pelo Ministério Público Estadual, estaria envolvido em movimentações fraudulentas de pelo menos R$ 476 milhões.
Conforme os promotores de justiça argumentaram em uma de suas dezenas de peças nas quais consta o nome do ex-secretário, ele se utilizava de sua expertise como executivo operador de contas milionárias no falido e extinto Bic Banco para sistematizar esquemas de subtração de dinheiro público.
Para o MPE, as indicações aos cargos públicos vieram como prêmio após anos fazendo o trabalho ilegal para os políticos mato-grossenses. O preço do poder e da fortuna obtidos por Eder foram condenações a 104 anos de prisão, além das já citadas dezenas de processos, 376 dias de cadeia intercalados ao longo de três anos e medidas cautelares restritivas que já incluíram uso de tornozeleira eletrônica, impedimento de viajar para fora do Brasil ou qualquer outro lugar sem autorização da justiça e até se ausentar de casa fora de horários pré-determinados.
À parte tudo isso, gosta de aparecer em público e até apresentou um programa durante os últimos quatro meses em um canal de televisão cuiabano até falir por falta de venda de anúncios publicitários. Ninguém quis anunciar no programa Eder Moraes – Recordações.