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POLÍTICA NACIONAL

Ex-presidentes da CRE ressaltam papel da diplomacia parlamentar no atual cenário

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Em uma iniciativa inédita, a Comissão de Relações da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) reuniu nesta quinta-feira (13), em caráter especial, ex-presidentes do colegiado para um diálogo sobre desafios e perspectivas da atuação do Senado no cenário internacional. Com debate sobre geopolítica, multilateralismo, globalização, conflitos, impactos das mudanças climáticas e oportunidades para o Brasil na atual conjuntura externa, atuais e ex-senadores destacaram o papel da diplomacia parlamentar.

Presidente da comissão, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) afirmou que a intenção do debate foi “descortinar um horizonte de muito trabalho” e receber contribuições de ex-presidentes quanto ao papel da diplomacia parlamentar no Senado. A iniciativa teve o objetivo de discutir o que pode ser feito para fortalecer a missão do colegiado.

Presente à reunião, a ministra substituta do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixadora Maria Laura da Rocha, destacou que a política externa, no papel de política pública, deve estar conectada aos anseios da sociedade. Ela enfatizou que, ao longo das últimas décadas, a CRE tem auxiliado o Poder Executivo a implementar as relações exteriores do país, respaldando suas ações por meio de debates democráticos e na prestação de contas de tais atividades à sociedade.

— A execução de uma política externa à altura da importância do Brasil no mundo, no atual contexto de múltiplas crises internacionais, depende de um diálogo fluído entre Executivo e Legislativo. Nos termos do artigo 4º da Constituição e das linhas gerais da Política Externa estabelecida pelo presidente da República, é essencial o fortalecimento do debate consensual e democrático acerca da definição dos interesses nacionais a serem escolhidos e promovidos internacionalmente — disse a embaixadora.

Coesão

Diretamente de Bruxelas e por videoconferência, o ex-chanceler e ex-senador Aloysio Nunes Ferreira, que esteve à frente da CRE no biênio 2015-2016, disse que a humanidade vive uma “fase muito perigosa”, com o fim do mundo unipolar, surgido após a queda da União Soviética, e o nascimento de um mundo multipolar. 

— Nós não temos na nossa política externa amizades incondicionais nem amizades irredutíveis; nós buscamos sempre atuar buscando aquilo que parece ser, segundo a opinião majoritária, o interesse nacional. Este soft power poderá, com base nos atributos que o Brasil tem de tamanho, de composição étnica, de tradição diplomática, poderá propiciar a nós uma atuação muito positiva na criação de um novo tipo de multilateralismo que guarde, em relação ao ideário anterior, a ideia da universalidade, da igualdade entre os Estados.

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Para Aloysio Nunes — que atualmente comanda a Divisão de Assuntos Estratégicos da do escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) na capital belga — a função da CRE é buscar um nível maior de coesão e abrir um diálogo produtivo com o mundo empresarial, com o mundo político em geral, com a academia, para, a partir daí, definir uma linha estratégica que possa contribuir para que o interesse brasileiro se afirme nesse momento de dificuldade que passa o mundo.

O ex-senador e atual deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), que comandou a CRE no biênio 2003-2004, afirmou que a comissão desempenha um papel essencial na projeção do Brasil no exterior:

— A CRE poderá contribuir com a diplomacia parlamentar ou ampliar relações bilaterais e multilaterais por meio da participação ativa em foros multilaterais como a União Interparlamentar, o Mercosul e a Unasul além das missões parlamentares ao exterior que possibilitam a troca de experiências entre governança e políticas públicas. Deve atuar também para fortalecer o soft power brasileiro ao estabelecer canais diretos de diálogo com legisladores estrangeiros, difundindo valores democráticos, boas práticas e legislativas e o compromisso com temas globais, como direitos humanos, meio ambiente, comércio sustentável.

Suplicy sugeriu que a comissão institua um observatório internacional do Senado e crie um núcleo de análise e inteligência legislativa.

— Essa iniciativa fortaleceria a CRE ao fornecer informações estratégicas sobre geopolítica, economia e diplomacia, contando com especialistas dos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa, além de parcerias acadêmicas.

Educação

Conhecido pela defesa das pautas pela educação, o ex-senador Cristovam Buarque, que esteve no comando da CRE entre 2005-2006, afirmou que o mundo vive em uma fase de transformação: “saímos de um tempo em que o mundo era a soma de países para um tempo em que cada país é um pedaço do mundo”.

— Não conseguimos viver isolados. E aí vem a grande chance do Brasil, porque o Brasil é o pedaço do mundo que mais se parece com o mundo: temos as riquezas e as pobrezas do mundo. (…) Essa comissão pode aproveitar isso. O Senado pode ser um fórum supranacional, que discuta o que o Brasil quer dizer ao mundo na COP 30 [ 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima], em novembro, no Pará.

Cristovam sugeriu a criação de uma subcomissão para a COP 30 (esta semana foi criada uma subcomissão temporária no âmbito da Comissão de Meio Ambiente) com participação de pessoas que pensam a geopolítica. Ele afirmou ainda que em nenhuma das edições anteriores da COP foi tratada a questão da educação, tão essencial principalmente às futuras gerações, que devem ser preparadas para a questão ambiental.

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— O Senado poderia aprofundar este debate como uma estratégia mundial de educação, colocando toda criança na escola e com um conteúdo planetário, um conteúdo mundial, um conteúdo de sustentabilidade, para que a gente crie uma nova mentalidade, que virá das crianças ou não virá. Mas as crianças só vão à escola se nós aqui, os adultos, construirmos as escolas e ajudarmos a formular o conteúdo.

Conflitos

À frente da CRE no período de 2021 a 2022, a ex-senadora Kátia Abreu enfatizou as questões comerciais e os atuais conflitos político-econômicos gerados por decisões unilaterais do governo norte-americano. Mas ela lembrou que “o melhor da democracia é que os mandatos passam, mas as instituições ficam”.

— Para mim uma das instituições mais poderosas do pilar da democracia, se é que se pode colocar alguém mais especial do que outra, é o Parlamento, é o Congresso Nacional. Quer seja num parlamentarismo, quer seja num presidencialismo, o Congresso é sempre soberano e caracteriza maximamente um país democrático. (…) Essa diplomacia parlamentar, na verdade, não é um favor nem uma condescendência que é dada ao Congresso Nacional. Isso está na Constituição brasileira. Nós temos o dever de exercer a diplomacia parlamentar.

Kátia Abreu destacou os artigos 49 e 84 da Constituição que atribuem competência exclusiva ao Parlamento para resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional bem como referendar tratados, convenções e atos internacionais celebrados pelo presidente da República.

A ex-senadora também enfatizou que a CRE deve se manifestar e querer saber sobre as localidades e posições para as quais as embaixadoras são escolhidas, a seu ver, para “lugares pouco diplomaticamente expressivos”.

— É difícil mesmo alguém se lembrar das mulheres na hora das escolhas. Então, eu peço que comece por aí, verificando com o chanceler como é a criação dessa comissão, quem faz parte dessa comissão e os critérios para essas escolhas. Tudo pensando no espaço que as mulheres podem ter e o quanto elas podem significar com o seu talento para a diplomacia mundial.

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A ex-parlamentar destacou ainda a importância do P20, cúpula de Presidentes dos Parlamentos do G20, grupo que reúne os parlamentos dos países com as maiores economias do mundo, e da União Parlamentar.

Defesa nacional

Para o ex-senador Eduardo Azeredo, que presidiu a CRE entre 2009-2010, a diplomacia parlamentar se impõe, e muito. Ele defendeu a questão da defesa nacional e lembrou que há em andamento um movimento de rearmamento

— Nós vemos no mundo hoje um movimento de rearmamento, digamos assim, anunciado na União Europeia, anunciado nos Estados Unidos, na própria China, e esse é um ponto fundamental sobre o qual a CRE deve se debruçar. O Brasil vem discutindo há muitos anos esse rearmamento.

O ex-senador Heráclito Fortes, presidente da CRE no biênio 2007-2008, contou que chegou ao colegiado por circunstâncias políticas e que, ao longo de seus quase 40 anos de vida parlamentar, viu a comissão como “a de maior importância no Senado”.

O ex-presidente do Senado e da CRE, o ex-senador e ex-presidente da República José Sarney telefonou ao senador Nelsinho para informar que não poderia comparecer em função de compromissos já assumidos. Também se manifestaram impossibilitados os ex-senadores Ricardo Ferraço e Fernando Collor. 

Preocupações

O senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) levantou em debate a questão da tecnologia, que pode interferir positiva ou negativamente nas relações mundiais:

— Neste momento, a gente vive uma transição muito grande de tecnologia, com inteligência artificial, e pouca gente se dá conta de como isso vai interferir em tudo o que a gente faz, inclusive questões de emprego no mundo, renda básica e tudo mais. Como a gente vai viver nesta situação? E o que nós fazemos aqui, as nossas decisões dentro do nosso país. Esta comissão tem essa conexão externa, que é muito importante. Isso pode e deve afetar todas as nossas relações. A gente tem que começar a pensar nesse sentido — disse.

Já o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) destacou que 80 anos se passaram desde o fim da Segunda Guerra Mundial e que “há uma nova ordem que parece começar a ruir”. Ele afirmou que o governo e o Parlamento devem caminhar juntos no trabalho de relacionamento com o resto do mundo.

Participaram ainda da reunião os senadores Laércio Oliveira (PP-SE), Tereza Cristina (PP-MS), Confúcio Moura (MDB-RO) e Esperidião Amin (PP-SC).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado

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Projeto permite a paciente terminal definir em texto seu tratamento de saúde

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O Projeto de Lei 4869/24, do deputado Domingos Neto (PSD-CE), permite ao paciente definir seu tratamento médico a partir das chamadas diretivas antecipadas de vontade (DAV).

Esse tipo de documento é usado em hospitais para registrar as preferências de um paciente sobre tratamentos e cuidados de saúde em caso de incapacidade. São também conhecidas como testamento vital. Lá estão descritas, por exemplo, as orientações sobre cuidados e tratamentos de saúde que a pessoa deseja ou não receber, no momento em que estiver incapacitada de expressar sua escolha de maneira autônoma e livre.

O texto tramita na Câmara dos Deputados e altera o Código Civil.

Segundo Domingos Neto, a inclusão das DAV no Código Civil representa um avanço significativo, não apenas para o campo jurídico, mas também para a prática médica. “As DAV promovem uma relação mais colaborativa e empática entre médicos e pacientes. Isso é especialmente relevante onde o foco está no alívio do sofrimento e na melhoria da qualidade de vida.”

O deputado afirmou que a inclusão das DAV no Código Civil contribui para a promoção de uma cultura de respeito à autonomia e dignidade dos pacientes no contexto da saúde. “Fortalece o respeito à autonomia e dignidade dos pacientes e promove uma prática médica mais humanizada, centrada nas necessidades e desejos individuais de cada paciente em sua jornada final de vida, respeitando o seu curso natural”, disse Domingos Neto.

Próximos passos
A proposta será analisada em caráter conclusivo pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Para virar lei, precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado.

Saiba mais sobre a tramitação de projetos de lei

Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Roberto Seabra

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Fonte: Câmara dos Deputados

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No Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial, deputado defende incentivo a empreendedores negros

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Na data em que se comemora o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, 21 de março, o deputado Damião Feliciano (União-PB) defendeu a união da população negra para superar as desigualdades. O parlamentar coordena a bancada negra na Câmara dos Deputados, grupo criado em 2023 e integrado por 135 parlamentares que se declaram pretos e pardos.

“Você lá do Amazonas, você do Rio Grande do Sul, nós precisamos nos unir com o nosso grupo da Paraíba, o do Mato Grosso. Essa união vai fazer a força para que a gente possa transformar este país e a negritude”, disse ele em entrevista à Rádio Câmara.

O deputado lembra que, devido às condições em que chegaram ao Brasil, como escravizadas, as pessoas negras foram colocadas no lugar de uma “sub-raça”. Feliciano ressalta também que, depois da abolição formal da escravatura, não houve nenhuma medida de compensação para melhorar a condição social dos ex-escravizados.

“Por exemplo, a distribuição de terra: o negro não teve essa ajuda para adquirir a terra para ele. O negro terminou sendo naturalmente somente empregado. É por isso que a gente não vê negro nenhum sendo latifundiário neste país, embora a população maior brasileira seja exatamente feita de negros”, afirmou.

Logo depois da abolição, o governo brasileiro estimulou a vinda de europeus para o Brasil, como parte de uma política oficial de embranquecimento da população. Uma das medidas para atrair os imigrantes da Europa foi a distribuição de terras.

O último censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017, aponta que, naquele ano, 72,2% dos proprietários de terras com mais de 500 hectares se declaravam brancos. Somente 2,5% se disseram pretos, e 23,9% pardos.

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Educação e crédito
Como ações para superar as desigualdades de condição entre negros e brancos, Damião Feliciano defende medidas como educação de qualidade e oferta de crédito. O deputado reivindica, por exemplo, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 27/24, de sua autoria, que institui o Fundo de Combate ao Racismo. O texto obriga o governo federal a destinar R$ 20 bilhões ao fundo – R$ 1 bilhão por ano durante 20 anos.

Feliciano acredita que, com esses recursos, a população negra poderá se tornar empreendedora e melhorar sua condição social.

“A gente tem que mudar. Temos que lutar por posição social, temos que ter posição importante nas empresas, CEO, precisa colocar em posições de mérito, de direção, o negro precisa colocar suas empresas”, ressaltou.

Desigualdade
De acordo com o último censo do IBGE, de 2022, 69% dos cargos gerenciais do País são ocupados por brancos.

Com relação à renda, o levantamento do instituto mostra que a população branca ganha, em média, 61,4% mais que a negra. Na base da pirâmide social brasileira estão as mulheres negras, com uma renda média que corresponde à metade do rendimento de homens brancos.

Com isso, mulheres e homens negros respondem por 80% da parte mais pobre da população, os 10% de menor renda.

Rportagem – Maria Neves
Edição – Ana Chalub

Fonte: Câmara dos Deputados

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