A comissão externa do Senado criada para acompanhar as buscas pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista inglês Dom Philips, desaparecidos há dez dias na Amazônia, definiu oito dos nove parlamentares que vão fazer uma inspeção na região. Um dos que devem integrar o colegiado é o governista Telmário Mota (PROS-RR), defensor do garimpo e autor de projetos para desarmar agentes do Ibama e proibir a destruição de maquinários apreendidos com suspeitos de exploração ilegal.
A criação da comissão externa temporária foi aprovada na última segunda-feira, a pedido do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ela será formada por três integrantes da Comissão de Direitos Humanos (CDH), mesmo número de indicados pela comissão do Meio Ambiente (CMA) e de Constituição e Justiça (CCJ).
Titular na CMA, Telmário foi escolhido pela comissão para integrar a missão externa. Além do senador, foram escolhidos: Leia Barros (PDT-DF) e Humberto Costa (PT-PE), da CDH; Eliziane Gama (Cidadania-MA), Fabiano Contarato (PT-ES) e Eduardo Velloso (União-AC), da CCJ; e Nelsinho Trad (PSD-MS) e Randolfe Rodrigues, da CMA.
Além do desaparecimento de Pereira e Philips, a comissão pretende investigar o aumento de casos de violência na Amazônia e a omissão na proteção de ativistas ambientais. O indigenista, exonerado da Funai em 2019 após uma operação para retirar garimpeiros de áreas indígenas de Roraima, vinha sendo alvo de ameaças por sua atuação. Ele está desaparecido com o jornalista inglês desde 5 de junho, quando foram vistos pela última vez na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas.
A indicação de Telmário foi vista com estranhamento pela oposição. O senador já se posicionou abertamente a favor do garimpo e é autor de dois projetos de lei que tentam enfraquecer órgãos e ações de comando e controle ambiental.
Em 2021, o senador apresentou um projeto de lei para dar fim ao porte de armas para agentes do Ibama que atuem em campo no combate a crimes ambientais. Esse direito é previsto na Lei de Proteção à Fauna.
Outro projeto do senador tentou proibir que maquinários, veículos e demais instrumentos usados na exploração ilegal sejam destruídos pelos órgãos de controle. A destruição desses objetos, como tratores e motosserras é prevista na legislação para causar prejuízo material a quem comete esses crimes ambientais.
No ano passado, Telmário foi alvo de uma notícia-crime enviada pela PF ao Supremo Tribunal Federal (STF) por “dificultar a ação fiscalizadora do poder público no meio ambiente, exercer advocacia administrativa e integrar organização criminosa”. Junto com o senador, também foi denunciado o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, na época à frente da pasta, e o presidente do Ibama, Eduardo Bim.
Segundo a Polícia Federal, os três tentaram beneficiar madeireiras após a Operação Handroanthus, que apreendeu mais de 130 mil metrôs cúbicos de madeira ilegal na divisa do Amazonas com o Pará. A notícia-crime contra Telmário, porém, foi arquivada a pedido do STF.
Simone Tebet critica forma como PEC Eleitoral foi aprovada no Senado
Pré-candidata à Presidência, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) criticou nesta quinta-feira a forma com a PEC Eleitoral foi aprovada no Senado, mas votou a favor do texto com a justificativa de que é preciso combater a crise econômica e o aumento da fome no país.
A proposta viola restrições da lei eleitoral para criar e ampliar uma série de benefícios sociais, ao custo de R$ 41,2 bilhões, a apenas três meses do primeiro turno. A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) vê na medida uma forma de conquistar votos no momento em que aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas eleitorais.
Entre os pré-candidatos ao Planalto, além de Tebet, Bolsonaro e Luiz Felipe D’Avila (Novo) também reagiram à aprovação da PEC no Senado. Enquanto o atual titular do Palácio do Planalto comemorou o projeto, D’Avila criticou o caráter eleitoreiro da proposta. Lula e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), por sua vez, não comentaram o assunto.
“O Auxílio Brasil vai de R$ 400 para R$ 600. O auxílio para o caminhoneiro é de R$ 1.000. Sei que é pouco, que os caminhoneiros gastam bastante combustível, mas é uma ajuda. Também vamos dobrar o valor do vale gás e vem mais coisa”, disse Bolsonaro em sua live semanal.
A PEC viabiliza “bondades” do governo com o objetivo liberar a ampliação de gastos e viabilizar a criação e a ampliação de uma série de benefícios sociais em período eleitoral.
Tebet votou a favor da proposta, alegando que a crise econômica e o aumento da fome no país tornavam necessária a ampliação dos auxílios sociais.
“Este é o caminho certo no que se refere esta questão dramática em que o Brasil está vivendo. A fome tem pressa, nós sabemos disso. Nós não estamos diante de uma escolha de Sofia. Não quando tantas Sofias e Marias estão sofrendo a dor da fome. Então não é uma escolha de Sofia, nós temos que efetivamente avançar e avançar rapidamente em uma solução para quem hoje não tem o que dar de comer a seus filhos.”
No entanto, a senadora criticou que a PEC não respeitou os ritos habituais de projetos do tipo, que costumam passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A matéria foi analisada direto no plenário.
“Esse projeto começou errado e termina errado. O meu voto é favorável, mas eu quero fazer um apelo à vossa excelência”, disse Tebet, se dirigindo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Que nenhuma PEC, nenhuma emenda constitucional deixe de passar pela Comissão de Constituição e Justiça, nem que façamos isso em 48 horas.”
A declaração da senadora foi feita durante a sessão que aprovou a PEC Eleitoral. Em um comentário duro, Tebet classificou a tramitação da proposta como algo feito “na coxa”.
“Não é possível nós entrarmos para os anais da história do Brasil, de votarmos uma PEC tão relevante, que fura teto, que viola lei de responsabilidade fiscal, que atinge a regra de ouro, fazendo alterações de vírgula ou de parágrafo na coxa. Porque é isso que estamos fazendo.”
O candidato do partido Novo, Luiz Felipe D’Avila, por sua vez, criticou o caráter eleitoreiro da proposta e disse que o projeto serve como um “cheque em branco” ao governo Boslonaro.
“Com caráter eleitoreiro, a PEC/16 é mais uma ameaça ao Brasil, disfarçada de bondade. São quase R$ 39 bi destinados para criar gastos em pleno ano de eleição. Reitero que não sou contrário ao subsídio às famílias, contudo, é inegável que tal projeto está sendo usado para contemplar objetivos eleitorais”, escreveu D’Avila.
O diretório nacional do PT aprovou nesta quinta-feira uma resolução que destina o máximo valor permitido pela legislação para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. O ex-presidente ficará com R$ 132 milhões do fundo eleitoral , o que equivale a 26,03% do total de recursos públicos reservados para o partido.
A mesma resolução estabelece que os candidatos a deputado federal homens receberão R$ 148 milhões, 29,41% da fatia do fundo do PT.
Por determinação da legislação, as candidatas mulheres a todos os cargos que estão em disputa este ano ficarão com 30% dos recursos, o que representa R$ 151 milhões.
O partido ainda decidiu que não repassará recursos para candidatos de outros partidos, mesmo que tenha fechada apoio no estado.
“O PT não destinará recursos diretamente às candidaturas de outros partidos e às candidaturas próprias a vice e a suplentes”, afirma um trecho da resolução.
Os candidatos a governador do partido ficarão com R$ 42 milhões, o equivalente a 8,34% do fundo eleitoral.