Bolsonaro se reúne com o vice-presidente do Telegram, Ilya Perekopsky (à dir.), e o advogado da empresa no Brasil, Alan Campos Elias Thomaz
O presidente Jair Bolsonaro se reuniu nesta terça-feira (07) com o vice-presidente do Telegram, Ilya Perekopsky, e o advogado da empresa no Brasil, Alan Campos Elias Thomaz, no Palácio do Planalto. O encontro, que não estava previsto na agenda do presidente, ocorreu um dia após os representantes do aplicativo de mensagens se reunirem com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Edson Fachin .
“Hoje, dia da Liberdade de Imprensa, tive excelente reunião com o vice-presidente mundial do Telegram, o Sr. Ilya Perekopsky, e o representante legal no Brasil, o sr. Alan Thomaz. Ótima conversa sobre a sagrada liberdade de expressão, democracia e cumprimento da Constituição”, postou Bolsonaro em suas redes sociais. O ministro das Comunicações, Fabio Faria, também participou da reunião no Planalto.
No encontro de ontem, o TSE disse ter solicitado aos representantes da empresa que o aplicativo adote algumas medidas para ajudar no combate às “fake news” , como a possibilidade de rastrear os responsáveis pela publicação de conteúdo enganoso. Segundo texto publicado na página da Corte na internet, Perekopsky respondeu que algumas sugestões podem ser analisadas para serem implantadas no futuro, enquanto outras não poderiam ser atendidas, mas o TSE não especificou quais. O Telegram, aplicativo de origem russa com sede em Dubai, se tornou alvo da Justiça brasileira após não responder a diversas tentativas de contatos por parte do TSE e ignorar decisões judiciais. A empresa mudou de postura em março deste ano, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) determinar o seu bloqueio no Brasil. Em maio, o aplicativo fechou uma parceria com a Corte eleitora para o combate à desinformação e se comprometeu a monitorar os cem canais mais populares no país para evitar a propagação de fake news.
Uma análise feita pelo GLOBO, contudo, mostrou que, mais de um mês depois do acordo, parte dessas contas que estão entre as mais acessadas no país continuavam a abrigar postagens com desinformações relacionadas às eleições, à vacina contra a Covid-19 e ao uso de máscara.
Telegram x WhatsApp
O aplicativo de origem russa cresceu no Brasil catapultado por restrições impostas por outras redes sociais mais populares. No WhatsApp, por exemplo, grupos têm limite de 256 membros, enquanto o Telegram abriga grupos para até 200 mil pessoas e canais com capacidade ilimitada de inscritos, tornando-se um terreno fértil para a desinformação.
Com postagens marcadas como suspeitas e até excluídas de outras redes, Bolsonaro passou a incentivar seus apoiadores a aderirem ao Telegram. No Brasil, de acordo com o Telemetrio, o canal do presidente lidera o ranking, com 1,3 milhão. No levantamento, também aparecem os perfis dos filhos dele, Carlos Bolsonaro (102 mil), Eduardo Bolsonaro (65 mil) e Flávio Bolsonaro (115 mil), além de Carla Zambelli (145 mil) e do ex-presidente Lula (64 mil).
Ricardo Stuckert/Divulgação e Presidência da República
Lula e Bolsonaro
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em entrevista a rádio Educadora de Piracicaba nesta terça-feira (29), que pretende aprovar decreto , caso eleito, para fazer um “revogaços” dos sigilos de 100 anos impostos na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“[…] o Bolsonaro, ediz que não tem corrupção mas decreta sigilo de 100 anos para qualquer denúncia contra ele. Decreta sigilo pro filho, decreta sigilo de 100 anos para os amigos, para o Pazzuelo. Nada ele deixa ser investigado, só daqui há 100 anos quando ele não existir mais. […] Nós vamos ter que fazer um decreto, fazer um revogaço desse sigilo que o Bolsonaro está criando para defender os seus amigos”, disse Lula.
Jair Bolsonaro, desde que assumiu o gabinete há pouco mais de 3 anos, determinou ‘sigilo de 100 anos’ em 6 ocasiões. Nesses casos envolvem uma investigação do STF sobre um possível gabinete paralelo do Ministério da Educação (MEC). Há suspeitas de que pastores evangélicos, que não atuavam oficialmente no governo, negociaram verbas da educação com prefeitos mediante o pagamento de propinas. O caso tomou maiores proporções com a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro , já solto pela justiça.
Para o especialista em direito constitucional, Camilo Onoda Caldas , a Constituição Federal brasileira garante o sigilo como em praticamente todo lugar do mundo. Porém, também assegura o princípio da publicidade, além disso, a Lei da Transparência também estabelece a publicidade como preceito geral, como a regra, e o sigilo como exceção.
“Portanto, se há uma decretação de sigilo indevida por parte do Presidente da República, Jair Bolsonaro, então pode haver sim um controle por parte do Poder Judiciário , revertendo essa decisão a fim de que a lei e, sobretudo, a Constituição Federal seja respeitada”, explica Caldas.
A declaração de sigilo ou uso da Lei de Acesso à Informação para restrir o acesso à informações também foi utilizada por Dilma Roussef em 2016, quando Casa Civil decidiu que o teor dos e-mails do servidor Jorge Rodrigo Messias, o “Bessias”, deviam estar sob sigilo por 100 anos . O funcionário é conhecido por mencionar conversa gravada pela Polícia Federal (PF) entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no tratamento do termo de posse que a ex-presidente daria ao petista para assumir o cargo de ministro da Casa Civil.
“Infelizmente, o atual presidente [Jair Bolsonaro] tem abusado do poder ao decretar sigilos, bem como ter negado sistematicamente o fornecimento [de informações] por intermédio da Lei de Acesso à Informação . Nenhum governo anterior fez o que o atual está fazendo. Quanto menos transparência existe, maior o risco de corrupção e outras atividades ilegais sejam acobertadas. Logo, a divulgação de informações será benéfica para a democracia e para que haja o respeito aos princípios constitucionais”, conlui o especialista.
O presidente Jair Bolsonaro reuniu-se com o presidente dos EUA, Joe Biden, à margem da IX Cúpula das Américas, em Los Angeles.
O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais Filipe Martins afirmou, em entrevista ao apresentador americano Tucker Carlson, do canal Fox News, que Jair Bolsonaro falou mal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Segundo ele, na reunião que aconteceu durante a Cúpula das Américas, em Los Angeles, no início de junho, Bolsonaro pôde lembrar ao norte-americano “quem Lula da Silva é”.
“Demorou muito, tomou um tempo, mas finalmente quando o presidente Bolsonaro pôde se sentar com o presidente Biden, pôde lembrar a Biden quem Lula da Silva é e a quantidade de corrupção e a quantidade de escândalos que tínhamos aqui no Brasil (…). E eu acho que o presidente Biden entendeu que é melhor para os Estados Unidos que o presidente Bolsonaro e um governo pró-democracia continue no poder no Brasil”, afirmou Martins.
– Recebi hoje, no Palácio do Alvorada, o jornalista americano @TuckerCarlson , apresentador do programa jornalístico de maior audiência dos EUA. Mostramos ao mundo a verdade sobre o Brasil, sobre o nosso governo e tenho certeza que mais uma vez a verdade irá nos libertar. pic.twitter.com/hwGmHIQ7aL
O apresentador Tucker Carlson é uma das vozes mais proeminentes da televisão americana ligada à direita. Em sua passagem pelo Brasil, ele gravou também com Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Segundo o parlamentar, durante a conversa o presidente abordou temas como economia, pandemia, armas e Amazônia.
Parte da entrevista já vai ao ar nesta quarta-feira, mas o registro completo será divulgado na manhã de quinta-feira. O presidente chegou a divulgar em suas redes uma foto ao lado de Carlson , afirmando mostrou “ao mundo a verdade sobre o Brasil”.
Em outro registro divulgado pelo apresentador, ele aparece ao lado de Bolsonaro vestindo um cocar indígena.
Na sabatina com Martins, que durou aproximadamente 4 minutos e foi veiculada nesta terça-feira, o assessor também ligou Lula a grupos terroristas e ao crime organizado. A declaração foi dada após uma pergunta de Tucker onde ele afirma que Lula é pró-China e questiona a ligação do petista com o país asiático, que definiu como ” o maior adversário dos Estados Unidos”.
“Desde 2009 a China vem ganhando posição aqui no Brasil e Lula da Silva é muito aberto à sua posição. Não só em dar suporte à China e a outras superpotências em nossa região, mas também sobre apoiar grupos terroristas, sobre apoiar o crime organizado e apoiar ditaduras como Venezuela, Cuba e Nicarágua”, disse o assessor especial.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro comentou a entrevista.
. @TuckerCarlson , âncora da Fox News, certamente conheceu hoje um @jairbolsonaro muito diferente daquele que a CNN dos EUA – e do Brasil – mostram. Aliás, eu diria que o senso de humor de ambos é bem parecido. Seja bem vindo, Tucker 🇧🇷 https://t.co/Sp0Klsw8E2
Filipe Martins, discípulo do escritor Olavo de Carvalho, integra a base ideológica do governo de Jair Bolsonaro. Ele chegou a ser denunciado pela Procuradoria da República no Distrito Federal por fazer um gesto alusivo a movimentos racistas de supremacia branca durante uma sessão no Senado, mas foi absolvido sumariamente pela 12ª Vara Federal do Distrito Federal.
A denúncia citou também postagens do assessor de Bolsonaro nas redes sociais sobre ideias, emblemas e símbolos relacionados a símbolos fascistas e de extrema-direita.
Questionado por Carlson sobre a demora para o encontro entre Jair Bolsonaro e Joe Biden, Filipe Martins respondeu que por dois anos o país enfrentou dificuldades para se conectar com Washington, especialmente com a Casa Branca.
O assessor contou ainda que um dos fatores que atrapalhou a relação bilateral foi a demora de Bolsonaro em aceitar o resultado das eleições após o anúncio da vitória de Biden e aguardar as discussões internas no país.