No Congresso Nacional, lideranças demonstraram apoio às investigações da Polícia Federal (PF) que levaram à prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro na manhã desta quarta-feira. Parlamentares voltaram a discutir a abertura de uma CPI sobre o caso, para a qual faltam duas assinaturas no Senado.
Ribeiro é investigado sob suspeita de ter cometido os crimes de corrupção e tráfico de influência no cargo, privilegiando o atendimento de pastores no ministério.
Para o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), a prisão demonstra que o bolsonarismo “destruiu os critérios republicanos para as políticas públicas”. Ele apoia a criação de uma CPI.
“O MEC, com o FNDE, era um espaço com muitos critérios (para investimentos). Tinha um conjunto de políticas construído nessa caminhada civilizatória, e o bolsonarismo vem destruindo tudo. Tem um pedido da bancada do PT na Câmara (por CPI) e outro no Senado. É evidente que estamos no processo eleitoral, mas como esse governo não respeita as instituições, cabe ao Parlamento investigar. Nesse caso tem um fato determinado, um objeto concreto. Não é um factoide e uma cortina de fumaça como a CPI da Petrobras defendida pelo governo.”
O líder do partido de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Altineu Côrtes (PL-RJ), defendeu que as investigações prossigam. “Óbvio que isso é uma coisa ruim para o governo, já que ele foi ministro do governo, mas não acho que isso afete em nada a credibilidade do governo”, disse ao GLOBO.
“Tudo tem que ser investigado, se as ações aconteceram ali foram coisas pontuais. Acho que o governo não tem que temer nenhum tipo de investigação. Tenho certeza absoluta que o presidente Jair Bolsonaro jamais teve qualquer assunto fora dos assuntos técnicos com esse ou com qualquer ministro.”
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que defendeu a criação de uma CPI do MEC em março, afirmou que “é compreensível agora porque o Governo Bolsonaro se esforçou tanto para retirar assinaturas da CPI do MEC”. Ele retomou agora o pedido por assinaturas.
“Aos interessados quero lembrar que faltam apenas 2 assinaturas para pedirmos a CPI do MEC”, disse no Twitter. “Por tudo que conseguimos apurar através da Comissão de Educação do Senado, o #BolsolaodoMEC é ainda maior do que parece. Tem que prender quem manda também!”.
Já o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) — denunciado pelo Ministério Público em 2021 por suspeita de lavagem de dinheiro e propina — disse que espera que Ribeiro seja inocentado. “Muitos que foram presos, hoje estão inocentados após conclusão das investigações. Espero que seja esse o caso do reverendo Milton Ribeiro”, afirmou.
‘Liberdade’ da PF
Paulo Rocha (PA), líder do PT no Senado, disse que vê de forma positiva o fato de a Polícia Federal estar conseguindo levar adiante o caso.
“É consequência da investigação que fizeram e das cagadas que fizeram no MEC. Ainda bem que a Polícia Federal está tendo a liberdade de fazer essa investigação.”
O líder da minoria no Senado Jean Paul Prates (PT-RN) também frisou a “liberdade” da PF. “Agentes públicos negociando propina para liberar verbas da Educação. Que a PF tenha toda a liberdade para investigar e punir os culpados. No governo que diz ter acabado com a corrupção, espero que não queiram acabar é com as investigações”, disse no Twitter. A deputada Tabata Amaral disse em rede social que “a área que deveria ser a mais importante ao Brasil virou símbolo do desastre desse governo”. “Os piores ministros da Educação da história não só destruíram, como também transformaram o MEC em balcão de negócios”, escreveu a deputada.
O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) lembrou que havia pedido providências da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre as suspeitas no MEC. “Não se acaba com a corrupção com orações, populismo ou bravatas online. É preciso ter independência, honestidade e coragem para enfrentar o sistema”, disse em sua rede social.
Simone Tebet critica forma como PEC Eleitoral foi aprovada no Senado
Pré-candidata à Presidência, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) criticou nesta quinta-feira a forma com a PEC Eleitoral foi aprovada no Senado, mas votou a favor do texto com a justificativa de que é preciso combater a crise econômica e o aumento da fome no país.
A proposta viola restrições da lei eleitoral para criar e ampliar uma série de benefícios sociais, ao custo de R$ 41,2 bilhões, a apenas três meses do primeiro turno. A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) vê na medida uma forma de conquistar votos no momento em que aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas eleitorais.
Entre os pré-candidatos ao Planalto, além de Tebet, Bolsonaro e Luiz Felipe D’Avila (Novo) também reagiram à aprovação da PEC no Senado. Enquanto o atual titular do Palácio do Planalto comemorou o projeto, D’Avila criticou o caráter eleitoreiro da proposta. Lula e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), por sua vez, não comentaram o assunto.
“O Auxílio Brasil vai de R$ 400 para R$ 600. O auxílio para o caminhoneiro é de R$ 1.000. Sei que é pouco, que os caminhoneiros gastam bastante combustível, mas é uma ajuda. Também vamos dobrar o valor do vale gás e vem mais coisa”, disse Bolsonaro em sua live semanal.
A PEC viabiliza “bondades” do governo com o objetivo liberar a ampliação de gastos e viabilizar a criação e a ampliação de uma série de benefícios sociais em período eleitoral.
Tebet votou a favor da proposta, alegando que a crise econômica e o aumento da fome no país tornavam necessária a ampliação dos auxílios sociais.
“Este é o caminho certo no que se refere esta questão dramática em que o Brasil está vivendo. A fome tem pressa, nós sabemos disso. Nós não estamos diante de uma escolha de Sofia. Não quando tantas Sofias e Marias estão sofrendo a dor da fome. Então não é uma escolha de Sofia, nós temos que efetivamente avançar e avançar rapidamente em uma solução para quem hoje não tem o que dar de comer a seus filhos.”
No entanto, a senadora criticou que a PEC não respeitou os ritos habituais de projetos do tipo, que costumam passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A matéria foi analisada direto no plenário.
“Esse projeto começou errado e termina errado. O meu voto é favorável, mas eu quero fazer um apelo à vossa excelência”, disse Tebet, se dirigindo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Que nenhuma PEC, nenhuma emenda constitucional deixe de passar pela Comissão de Constituição e Justiça, nem que façamos isso em 48 horas.”
A declaração da senadora foi feita durante a sessão que aprovou a PEC Eleitoral. Em um comentário duro, Tebet classificou a tramitação da proposta como algo feito “na coxa”.
“Não é possível nós entrarmos para os anais da história do Brasil, de votarmos uma PEC tão relevante, que fura teto, que viola lei de responsabilidade fiscal, que atinge a regra de ouro, fazendo alterações de vírgula ou de parágrafo na coxa. Porque é isso que estamos fazendo.”
O candidato do partido Novo, Luiz Felipe D’Avila, por sua vez, criticou o caráter eleitoreiro da proposta e disse que o projeto serve como um “cheque em branco” ao governo Boslonaro.
“Com caráter eleitoreiro, a PEC/16 é mais uma ameaça ao Brasil, disfarçada de bondade. São quase R$ 39 bi destinados para criar gastos em pleno ano de eleição. Reitero que não sou contrário ao subsídio às famílias, contudo, é inegável que tal projeto está sendo usado para contemplar objetivos eleitorais”, escreveu D’Avila.
O diretório nacional do PT aprovou nesta quinta-feira uma resolução que destina o máximo valor permitido pela legislação para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. O ex-presidente ficará com R$ 132 milhões do fundo eleitoral , o que equivale a 26,03% do total de recursos públicos reservados para o partido.
A mesma resolução estabelece que os candidatos a deputado federal homens receberão R$ 148 milhões, 29,41% da fatia do fundo do PT.
Por determinação da legislação, as candidatas mulheres a todos os cargos que estão em disputa este ano ficarão com 30% dos recursos, o que representa R$ 151 milhões.
O partido ainda decidiu que não repassará recursos para candidatos de outros partidos, mesmo que tenha fechada apoio no estado.
“O PT não destinará recursos diretamente às candidaturas de outros partidos e às candidaturas próprias a vice e a suplentes”, afirma um trecho da resolução.
Os candidatos a governador do partido ficarão com R$ 42 milhões, o equivalente a 8,34% do fundo eleitoral.