O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso , disse nesta sexta-feira que “a democracia só não tem espaço para quem quer destruí-la” e defendeu o sistema eletrônico de votação, durante evento realizado no Rio de Janeiro.
O ministro também afirmou a jornalistas que se manterá em silêncio quanto às supostas orientações recebidas por militares, segundo ele disse no último domingo, para que ataquem o sistema eleitoral. A fala acirrou a crise do judiciário com o governo.
“A democracia é um ambiente plural. Tem lugar para progressistas, conservadores e liberais. Só não tem espaço para quem quer destruí-la”, afirmou durante seminário promovido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) sobre desafios da Justiça Eleitoral em 2022. Sobre o sistema eletrônico de votação, ele ressaltou a inviolabilidade da tecnologia adotada no Brasil e destacou que o voto impresso é passível de fraudes.
“A matéria prima da Justiça Eleitoral é composta por integridade do voto, participação popular e democracia. As urnas eletrônicas brasileiras não entram em rede e não são passíveis de ataques hacker. Já tentaram muito. Mas, não há como fraudar o resultado das eleições. As urnas eliminaram a intervenção humana na votação e na apuração. O sistema é seguro e transparente”, completou.
À Carta Capital, o ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello criticou Barroso pela declaração de que as Forças Armadas são orientadas a atacar o processo eleitoral e disse que ele cometeu “ingenuidade pura”.
“Ingenuidade pura pensar que Exército, Marinha e Aeronáutica – os militares, portanto – se engajarão numa aventura. Foi um ato falho do ministro Luís Roberto Barroso que não veio a contribuir para a pacificação que o clima está a reclamar. Foi um ato falho”, disse sobre o ex-colega.
Questionado sobre o tema, Barroso durante o evento desta sexta, Barroso disse que permanecerá em silêncio.
Durante sua participação em um seminário promovido por uma universidade alemã, Barroso disse que o Brasil é um dos países que testemunha a ascensão do populismo autoritário e relembrou episódios como o desfile de tanques na Esplanada dos Ministérios e os ataques do presidente Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas.
Segundo Barroso, existe uma tentativa de levar as Forças Armadas ao “varejo da política”. Para ele, é importante que os comandantes militares evitem esse tipo de contaminação. No ano passado, em meio à pressão do presidente Jair Bolsonaro, o Tribunal Superior Eleitoral convidou representantes das três Forças para participarem do processo de fiscalização das urnas.
“Um desfile de tanques é um episódio com intenção intimidatória. Ataques totalmente infundados e fraudulentos ao processo eleitoral. Desde 1996 não tem nenhum episódio de fraude. Eleições totalmente limpas, seguras. E agora se vai pretender usar as Forças Armadas para atacar. Gentilmente convidadas para participar do processo, estão sendo orientadas para atacar o processo e tentar desacreditá-lo”, afirmou.
Dantas foi eleito hoje com votos de 21 deputados, em eleição indireta realizada na tarde deste domingo na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Desde quando Renan Filho (MDB) e Luciano Barbosa (MDB) renunciaram, respectivamente, aos cargos de governador e vice para concorrer nas eleições de outubro, Renan e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vinham travando uma verdadeira batalha judicial e política a respeito do mandato tampão.
O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF) e a eleição de hoje aconteceu sub judice devido à ação na Corte sobre as regras definidas pela Assembleia Legislativa.
O julgamento foi suspenso na sexta (13) após pedido de vista do ministro Nunes Marques, que queria mais tempo para analisar o caso. Mesmo assim, a eleição foi realizada porque estava em vigor uma decisão liminar que a autorizava.
O novo governador de Alagoas é natural de Maceió, produtor rural com formação em administração de empresas pelo Centro Universitário Cesmac e exercia mandato como deputado estadual desde 2019.
Ciro Nogueira é acusado de vetar recursos de adversário político
Os ofícios das emendas de relator informados pelos próprios parlamentares por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmam a influência do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, sobre os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS). Em 2021, a mãe de Ciro Nogueira, Eliane Nogueira (PP-PI), que assumiu o posto de senadora como suplente do filho, indicou R$ 174 milhões de orçamento secreto na área da Saúde.
Em reportagem publicada neste domingo (15), O GLOBO mostrou que parte dinheiro do orçamento do Sistema Único de Saúde, o SUS, passou a ser usado para beneficiar aliados do governo no Congresso. Ao longo de 2021, o FNS distribuiu boa parte dos R$ 7,4 bilhões em emendas de relator a redutos eleitorais de caciques do Centrão.
Parlamentares opositores a Ciro, no Piauí, não tiveram a mesma sorte. O senador Marcelo Castro (MDB-PI), eleito relator-geral do Orçamento de 2023, foi informado pelo líder da bancada do seu partido que poderia escolher como aplicaria R$ 40 milhões do FNS. Adversário político de Nogueira no Piauí, Castro disse que, no entanto, o repasse dos recursos foi barrado.
“Ciro deu a ordem para o Queiroga não empenhar R$ 40 milhões que eu havia mandado. Ele vetou tudo o que era meu”, diz Castro.
O novo relator do orçamento afirma que, ao chegar no Ministério da Saúde, suas solicitações foram classificadas como “rejeitadas”. “Qualquer coisa que for empenhada para o Piauí, tem que submeter primeiro ao Ciro. Se for coisa minha, ele não libera”, afirma o senador, que já foi aliado mas atualmente está rompido, politicamente, com o ministro da Casa Civil.
“Inicialmente, os prefeitos acharam que eu é que tinha prometido, mandado cadastrar (as propostas) e que depois eu teria retirado o recurso. Porque ficou lá no sistema como ‘rejeitado’. Nunca vi isso. Mas hoje eles sabem que foi perseguição do Ciro. Foi uma coisa muito estranha e sem propósito porque, como ministro, ele deveria ajudar a levar recurso para o estado. Mas ele não tem essa visão. A rejeição dos R$ 40 milhões foi em meados do ano passado, depois que ele tomou posse”, completou.
Já a mãe do ministro da Casa Civil teve mais sucesso, tendo mandado, de uma só vez, em 28 de dezembro do ano passado, um ofício solicitando R$ 80 milhões para 34 municípios comandados por aliados dos Nogueira no Piauí. Três dias depois, Queiroga publicou uma portaria e mandou empenhar todos os valores solicitados pela congressista.
Quase metade do montante (R$ 37 milhões) foi enviado à capital, Teresina. O prefeito, Doutor Pessoa, foi eleito em 2020 pelo MDB, mas migrou para o Republicanos, sigla da base de Bolsonaro. Outra cidade contemplada pela mãe do ministro foi Parnaíba, governada por Francisco de Moraes, o Mão Santa (MDB), com R$ 12,3 milhões. A filha do prefeito, Gracinha Moraes, filiou-se ao PP no início do ano, em evento que contou a presença de Nogueira. Nogueira e Eliane não comentaram.
Diante da pandemia de Covid-19, o governo de Jair Bolsonaro entregou a aliados no Congresso o controle do dinheiro destinado a serviços de saúde nos estados e municípios. Fonte de recursos utilizados para bancar compras de ambulâncias, atendimentos médicos e construção de hospitais, o Fundo distribuiu em 2021 boa parte dos R$ 7,4 bilhões em emendas de relator a redutos eleitorais de caciques do Centrão, ignorando critérios técnicos. Segundo o relator do Orçamento deste ano, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), o FNS se tornou um “instrumento de negociação” política.
Com a expansão do poder do Congresso sobre o Orçamento e o avanço da pandemia, a quantia em emendas que irriga o FNS cresceu 112% entre 2019 e 2021. Quase metade desse aumento se deu via orçamento secreto, mecanismo por meio do qual é distribuída, de forma desigual, recursos entre parlamentares, dando poder de barganha ao governo e a seus aliados na cúpula do Congresso.
Parte dos pagamentos do FNS ocorre numa modalidade conhecida como “transferência fundo a fundo”. Funciona assim: o dinheiro do Orçamento vai para o fundo nacional e, de lá, é repassado diretamente para um fundo estadual ou municipal de saúde. Dessa forma, a verba indicada por deputados e senadores se mistura a outras fontes de recursos, o que dificulta a identificação dos gastos. Outro atrativo para parlamentares é que a transferência acontece de forma mais célere. Na maioria dos casos, chega à prefeitura em questão de dias, enquanto emendas direcionadas a outros órgãos levam até anos para serem liberadas.
O Ministério da Saúde não comentou a reportagem. Procurado ao longo da última semana, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, também não se manifestou, assim como a sua mãe, a senadora Eliane Nogueira (PP-PI).